O uso consciente de maquiagem: Porque havia parado e porque voltei a usá-la.

 Desde o meu 3º ano do Ensino Médio  (2017) tenho me aprofundado cada vez mais no estudo do Feminismo e, naturalmente, transitado entre diversos recortes dele.
 Como acontece com a maioria das garotas, meu primeiro contato com o tema foi a partir do feminismo liberal, que foca tão somente na narrativa de que você é livre sexual e esteticamente, o que definitivamente não é um problema se pensado junto a diversos outros impasses transversais a existência das diversas mulheres, mas como já foi dito, isso não ocorre dentro desse recorte que se detém tão somente nessa ideia. 
 Nesse primeiro período eu também me envolvi mais com o Movimento Negro a partir  de um projeto muito lindo chamado Eco das Vozes do Povo Negro, que aconteceu na minha cidade e foi realizado pelo Coletivo Casa Flor (o qual passei a compor, mais tarde). Na transição desse período para o segundo, que foi quando ingressei em Letras, na UESC, me dei conta de algumas coisas: primeiro que as lutas estavam intrinsecamente ligadas e segundo que eu não me sentia representada por muitas pautas reforçadas por mulheres ditas feministas. 
 Durante esse tempo eu tive um problema com acnes agravado pela Ansiedade (que, por sua vez, foi agravada pela nova rotina proporcionada pela faculdade) e precisei parar de usar maquiagem, o que foi um processo bastante difícil, pois se eu já não me sentia bem "de cara lavada" antes de ter tanta acne imagine depois de tê-la em, literalmente, todas as partes do meu rosto?
Foi um período muito difícil e, embora eu tentasse não demonstrar, morria de vergonha de ir para  a faculdade ou para outro lugar sem maquiagem. Enfim, o período de mais ou menos 5 meses passou e quando eu percebi, além de já ter me acostumado a andar sem maquiar eu até já me achava estranha ao aplicar algo mais "pesado" no rosto.
 Obviamente,  eu não dormi me odiando e acordei me aceitando sem maquiagem, toda a auto-aceitação veio no decorrer de um processo no qual eu só tinha a mim mesma como ajuda. Lembro que duas  grandes inspirações foram  a Nataly Neri do Canal Afros e afins, no youtube  e a Jout Jout, duas grandes ativistas nacionais. Umas me inspirou por estar reduzindo o uso de maquiagem no mesmo período e a outra por, desde sempre, aparecer de "cara lavada", além de ambas sempre abordarem temas como autoestima, autoaceitação e outros assuntos que agregaram fortemente a minha concepção política.
 Além disso, busquei seguir referências que se parecem mais comigo no Instagram, como também pessoas que aboliram o uso, ou se maquiavam pouco. Também observei mais outras mulheres dentro da universidade, sobretudo as que já não tinham mais problemas com isso e pude ver como são lindas e como eu poderia ser também.  Isso com certeza foi fundamental.
 Paralelamente, comecei a entender  o Capitalismo e sua perversidade, sobre como ele influencia todo o imaginário da sociedade e sobre como somos convencidos a comprar o que não precisamos, a tentar ser o que não somos, portanto, percebi que a minha obsessão por  esconder minhas marquinhas de acne não passava de uma resposta inconsciente ao que eu sempre consumi nas propagandas, na tv e na internet como um todo: a de a que pele perfeita é a mais "limpa" possível (e se os produtinhos de skincare caríssimos não resolvem, meu amor, nós temos outra solução: é só lotar sua cara com essa base caríssima aqui + uns 5 tipos diferentes  de corretivo). 
 Além disso, nós aderimos às maquiagens que afinam os traços e desde sempre eu me pergunto porque, embora eu saiba a resposta. A make mais bonita, de acordo com o que a mídia vende atualmente, é aquela que afina os traços do nosso rosto. Tanto que compramos pelo menos 3 tons de base ou corretivo diferentes para fazer aqueles truquezinhos babadeiros. Isso poder ser resquício de um pensamento racista e/ou gordofóbico de que traços negroides e/ou rostos gordos e  arrendondados são menos bonitos que os traços mais afinados.
 Depois de entender tudo isso, simplesmente por ter sido "obrigada" a passar por esse processo, consegui me aceitar com meus traços e minhas "peculiaridades", então pude voltar a me maquiar com a completa consciência de que sou bonita (maquiada ou não) do meu jeito e que é muito melhor me parecer com os meus. É completamente normal ter um nariz grande e redondo, ele não é melhor ou pior do que um nariz pequeno e afinado, assim como ter umas marcas de acne evidentes não vão afetar de jeito algum a minha competência.
 Antes de finalizar, gostaria de enfatizar que não critico quem ESCOLHE se maquiar, muito menos quem trabalha com isso (admiro demasiadamente), afinal EU AMO um reboco, um delineado marcante, um lábio marcado, um olhar poderoso. Eu apenas quero oferecer outra visão sobre nós mesmas. Com o relato da minha experiência, pretendo influenciar outras mulheres a se olharem com mais carinho  quando não estão "closando".
  Com isso, gostaria de convidar você que não conseguem viver sem pelo menos passar uma base, a passar pela experiência de dias seguidos sem se maquiar, pois por mais insignificante que pareça, sua visão sobre muita coisa pode mudar, inclusive sobre si mesma. Aprenda a se amar de outras formas, é libertador! <3 



















foto de julho de 2020



                                                                                                         
                                                                                                                         foto de maio de 2020


3 comentários

  1. Suas resenhas são inspiradoras! Não tem como sair a mesma pessoa depois de ler o que você escreve.

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  2. Incrível sua loka revolucionária!!! Já quero seu livro ❤️❤️❤️
    Saudades mulher você é foda ❤️

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  3. Eu amei. Texto incrível e necessário💜

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